A passagem da Jornada Literária por Sobradinho e Sobradinho 2 dará atenção especial aos alunos e professores das escolas da área rural. Isso já havia sido feito no Paranoá e em Santa Maria, na edição da Jornada no ano passado. Este ano se repetiu em Brazlândia, cidade predominantemente rural, e agora em Sobradinho. Essa programação da Jornada nas escolas rurais será nos dias 28 de setembro e 1º, 2 e 4 de outubro, logo após a programação no Teatro de Sobradinho, que será entre 24 e 27 de setembro (Confira abaixo).
O curador da Jornada Literária, o escritor João Bosco Bezerra Bomfim, estará na área rural nos quatro dias, conversando com alunos e professores sobre livros e literatura. Para Bosco, há sim diferenças em falar sobre esses assuntos para crianças da área rural. “Posso notar um grau de concentração diferente: os meninos e meninas das regiões rurais são mais atentos; há mais novidade; e a curiosidade se manifesta mais. Um olhar de camponês emana dessas crianças e adolescentes, não tão dominado pelas mídias eletrônicas”, avalia o autor.
Marco Miranda, que acompanhará Bosco em uma das escolas, andou muito por fazendas de Goiás quando era criança, e esta experiência em Sobradinho, acredita, o levará em parte de volta à meninice. Ele não vê muita diferença em conversar com crianças de cidades e crianças do campo, mas acredita que há sim algumas particularidades. “No campo, a criança tem uma relação diferente com o tempo. Tudo flui de uma maneira mais suave e a presença de um escritor é um evento com significado mais importante para um aluno de uma escola rural. As metáforas que uso para explicar uma cena ou o contexto da história são diferentes”, explica o autor do clássico infantil O Paradeiro do Padeiro.
Com experiência nos dois universos – urbano e rural – João Bosco Bezerra Bomfim diz que nas escolas do campo o livro assume uma posição um pouco mais destacada. Sem desmerecer a atenção que as escolas das cidades dão ao livro, Bosco explica que nas áreas rurais “comparativamente, as escolas são menores que as urbanas. E, sendo a equivalente a todas as escolas a típica sala de leitura, essa das escolas rurais é alvo de mais atenção. Os meninos e meninas veem mais atrativos nessa sala. Consultam mais. Emprestam mais livros. Temos notícias do tipo: uma criança de dez ou doze anos dessas cidades onde vimos trabalhando não conhecer o Plano Piloto. O que significa isso? Que os estímulos midiáticos e urbanos (shoppings, etc.) são mais raros. E a beleza dos livros, proporcionalmente, mais atraente”.
Marco Miranda concorda. “A criança da escola rural tem menos ofertas de distração e entretenimento e quando elas estão em contato com os livros, as histórias funcionam como aquele game que ela não acessa, aquele desenho animado que não chega na sua TV e até mesmo aquele passeio ao shopping que ela não tem. O livro é um elemento sempre novo no imaginário da criança do campo. Abre horizontes que ela nem imaginava existir”.
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