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As portas da percepção estão abertas na Jornada Literária

A literatura é uma porta para, entre outras coisas, a libertação da consciência e o reconhecimento pela pessoa de sua identidade. Isto pode parecer filosofia, mas na verdade é a constatação que se faz ao conversar com alunos e professores que participam da 3ª edição da Jornada Literária do Distrito Federal. Desde ontem no Teatro Sesc Newton Rossi, em Ceilândia, mais de 500 mestres e estudantes da rede pública de ensino participam de rodas de conversa, leitura, shows e rodas de poesia com os autores convidados para o evento promovido com recursos do Fundo de Apoio à Cultura, FAC-DF, e correalizado pelo Sesc.


Para professores, Jornada está mostrando aos alunos a utilidade da literatura (Fotos de Andressa Anholete)

Para os professores, as atividades que compõem a Jornada desmistificam a figura do escritor e provam a utilidade da literatura. “Esses eventos fazem com que os alunos percebam a literatura como quotidiana, como real, e que os escritores não fazem parte só lá do passado, que nós temos ótimos escritores hoje, nesse momento, e que aquelas influências que eles estudam na literatura estão aqui presentes, nos dias atuais”, acredita Maria Helenice de Paiva Miranda, que dá aulas no Centro de Ensino Médio 12, em Ceilândia.


Outro professor do ensino médio da rede pública, Pedro Alves Lopes, diz que temas tratados por autores na Jornada podem dar novo significado à própria vida dos estudantes. “A gente percebe a temática tratada nesses eventos, como o feminicídio, tão próximo. São temas recorrentes do dia a dia, porque muitas vezes os pais dos alunos agridem as mães e esse tipo de evento mostra que a literatura faz parte da reflexão do dia a dia da vida deles e a literatura pode abrir um leque de novas posturas diante da existência”, exemplifica Pedro.


Cuidando de temas diários, a literatura pode fazer com que os jovens valorizem sua identidade. Para o também professor do ensino médio, no Gama, Valdeci Moreira de Souza, é importante “você trazer uma mulher negra e falar da identidade da mulher negra, se posicionar, se colocar a respeito do cabelo, que muitas vezes as pessoas não compreendem o que é essa identidade como pessoa negra”, numa referência à apresentação da poeta e atriz Cristiane Sobral. Outra boa “sacada” da Jornada, segundo o professor: vir para a periferia, sair do Plano Piloto.


Professores elogiaram a valorização da identidade trazida por Cristiane Sobral

“Acho que a Cristina mostrou que a literatura é uma forma de libertação, de a pessoa sentir que ela existe no mundo, o que esses alunos de periferia muitas vezes precisam, porque sofrem preconceitos, são inferiorizados pela sociedade, e quando tem um escritor em quem eles se sentem representados isso reforça muito a importância que a literatura pode ter na vida deles, não fica uma coisa distante que eles não conseguem se identificar”, explicou Nélbia Darlene de Jesus Bezerra, colega de magistério de Valdeci no mesmo colégio, o CED 8, no Gama, também se referindo à apresentação e Cristiane Sobral.


Daniel, 18 anos: inspiração no Rap e coragem para declamar pela primeira vez

Para os alunos, a percepção é parecida. Isabelle Borges, de 17 anos, é aluna do 3º ano e subiu ao palco para declamar poemas durante a apresentação da poeta Meimei Bastos. Nas palavras da estudante, é nítida essa “porta” a que os professores ser referiram. “A literatura me mostra outros mundos, outros meios de pensar, eu vejo que nem todos os seres humanos são iguais, cada um tem uma maneira de pensar”, explica Isabelle, citando também o efeito prático da leitura em sua vida de estudante. “Sempre que eu leio eu me imagino em outro mundo, a criatividade vai aumentando e parece que vai melhorando até a nossa capacidade de aprender na escola. Eu interpreto melhor os textos e faço melhores redações” garante.


Isabelle, de 17 anos: “A literatura me mostra outros mundos, outros meios de pensar"

“Hoje nós trabalhamos letras de música de Caetano, Chico, trabalhamos com livros de literatura de escritores atuais para que os alunos vejam na literatura um significado real para eles e trabalhando também a produção textual, para que eles se tornem autores que possam contribuir”, conta Maria Helenice de Paiva Miranda, mostrando que procura levar para a sala de aula um pouco da forma como a Jornada Literária aborda a literatura.


Para Daniel Tales Leandro de Brito, de 18 anos, aluno do CED 8, no Gama, a Jornada o está incentivando a escrever. “Os poemas que eu recitei hoje eu nunca tive uma oportunidade ou coragem de recitar, então abriu uma oportunidade muito boa e o incentivo é muito grande. O livro abre portas, a liberdade de expressão é muito importante e o livro incentiva”, conta Daniel, que se inspira no Rap para escrever seus poemas e foi o vencedor em um concurso improvisado no palco do teatro por Meimei Bastos.

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