A formação de leitores é o principal objetivo da 3ª. Edição da Jornada Literária do Distrito Federal, evento realizado com verba do Fundo de Apoio à Cultura, FAC-DF, e correalizado pelo Sesc, e que ocorre até esta 6ª. Feira, 17, no Teatro Sesc Newton Rossi, em Ceilândia.
O editor de quadrinhos S. Lobo resumiu em uma frase o espírito do evento. “Se todos esses não sei quantos mil alunos que passam por todos nós, por todos os autores, se a gente fizer um ler , eu acho que esse evento ‘tá pago. Esse único leitor será mil daqui a alguns anos”. Nas conversas que teve sobre HQ’s com estudantes do ensino médio, S. Lobo deixou claro para os adolescentes. “Não importa muito o que você lê, você tem que ler qualquer coisa. Leitura desenvolve o cérebro da gente, é importantíssimo para cidadania, para você entender quem você é, onde é que você tá, qual seu papel no mundo”.
Cristiane Brito de Castro é uma das dezenas de professoras da rede pública que levou seus alunos à Jornada. Após o encontro dos pequenos, de até seis anos, com o escritor Caio Riter, ela confirmou que o contato das crianças com o autor – um dos principais motes da Jornada – é um incentivo para a formação de novos leitores e ajuda muito o trabalho dela em sala de aula. “Estimula a leitura, o ouvir a história, quem escreveu aquela obra, que nós já trabalhamos antes de vir para o encontro. Desperta muito a curiosidade pelo livro, pelas imagens, pelos personagens”, explica professora, garantindo que coleciona vários exemplos de alunos que viraram leitores após eventos nos moldes da Jornada. E quando a criança é pequena, ver o escritor de perto acrescenta um outro elemento. “Eles confundem autor com ator, e conhecendo o escritor, conseguem diferenciar um do outro”, explica.
Andrey Vítor, de 14 anos, é bem mais velho que a ‘tropinha’ de Crisitiane, mas confirma o efeito de se encontrar com um escritor após ter lido o livro dele. “É bom para entender o livro que você está lendo. Eu achei muito legal, porque ele pegou uma história real e transformou num conto”, explicou o aluno da 7ª série após um bate papo com o escritor Leo Cunha.
O gaúcho Caio Riter saiu de duas sessões com alunos de até seis anos elogiando, a exemplo de outros autores, a inciativa da Jornada de fazer com que as crianças e os jovens leiam o livro antes da conversa com o escritor. “Isso é fundamental. Porque um encontro com um escritor só tem valia quando ele vem coroar um trabalho que foi feito antes com as crianças e os leitores já conhecem a obra do escritor e ficam motivados para isso”.
O livro de Caio Riter trabalhado na Jornada foi Os Sete Patinhos, uma história em que o autor não procurou finalizar com uma moral. E isso, para ele, também ajuda na formação do leitor, no que diz respeito ao seu pensamento crítico. “Os bons livros são aqueles em que vários leitores podem perceber diferentes leituras. Eu nem digo mensagens, mas leituras, aprendizagens muito mais existenciais do que conteudísticas. Acho que esse é o papel da arte, da literatura: citar pensamentos e discussão através de um objeto estético”, analisa Riter.
Levar aos alunos a literatura por intermédio do teatro, da música e do desenho é outra proposta da Jornada que parece trazer resultados, inclusive em sala de aula. “É muito importante quando a gente vê a historia contada dessa maneira (teatro e música), bem lúdica, mas que transmite a verdade, a ideia que a escritora quis transmitir. Porque muitas vezes a leitura é aquela coisa apática e eles não têm muito interesse, muita vontade”, explicou Daniela Pereira, professora em Ceilândia, que levou os alunos do ensino fundamental ao Teatro Sesc Newton Rossi para ver o espetáculo Firimfimfoca, uma montagem com livros da escritora Sylvia Orthof. “Muitas vezes eles vêm o livro fechado e não imaginam o que aquilo pode ajudá-los para uma vida melhor”, acrescentou a professora.
Se eventos como a Jornada ajudam os professores, não é diferente com os alunos. “Acho bom, porque incentiva, faz a gente avançar nos estudos, na capacidade de ler, escrever, no conhecimento. A gente interpreta melhor o texto e a redação”, disse Brenda da Silva de Castro, aluna da 7ª série, em Ceilândia, que também foi ao encontro de Leo Cunha.
A percepção geral é que as atividades da Jornada Literária fogem de algo que, para todos os envolvidos no projeto, é terrível para a leitura: a obrigação de ler. “Tudo que você é obrigado a fazer não é legal. Eu não assisto a filmes porque sou obrigado, eu assisto a filmes porque me interessam. Eu cresci lendo ficção científica. Então, você pega um garoto de 13 anos, que adora ficção científica, e o obriga a parar de ler o que ele gosta? Não estou discutindo que é importante para o currículo, mas você quebra esse prazer da leitura e começa a transformar isso numa coisa chata”, considerou S. Lobo.
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