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Sobradinho já tem mais leitores: a Jornada Literária passou por lá

Atualizado: 29 de ago. de 2019

A Jornada Literária se despede de Sobradinho com o sentimento de missão cumprida. Durante quatro dias (20 a 23), o evento, realizado com termo de fomento firmado com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, reuniu, no Teatro de Sobradinho, 10.474 estudantes, de 25 escolas públicas da cidade, sendo que boa parte deles vindos das escolas rurais.


Estímulo é fundamental para formar novos leitores (Foto de Andressa Anholete)

Qual o objetivo de tantas crianças e adolescentes juntos, em um mesmo lugar? Aproximá-los dos livros e da leitura, fazendo com que o país tenha novos leitores.


“Precisamos que elas (crianças) entrem no livro, desconstruam o livro para que construam o próprio pensamento”, diz o escritor Marco Miranda, que participa desde a primeira Jornada Literária, em 2016.


A Jornada Literária dá o primeiro passo para que os alunos construam a própria relação com os livros. No 1º ano do ensino fundamental da Escola Classe Rua do Mato, região rural de Sobradinho, as turmas leram o livro “Era Uma vez uma Maria Farinha”, de João Bosco Bezerra Bonfim, com ilustrações de Felipe Cavalcante. Os alunos gostaram tanto da história que pediram à professora para fazer um trabalho sobre o livro. “Vamos criar a Maria Farinha?”, sugeriu a professora Maria Ivanilda Dias da Silva Pereira. A turma, então, usou figuras geométricas de papelão para “construir” a personagem, espécie de caranguejo que mora na areia da praia. “O que a gente pode pensar de paisagem? Onde é que a Maria Farinha Mora?”, ela fez a pergunta para muitas crianças que jamais viram o mar, mas que, a partir do livro, não tiveram qualquer dificuldade em recriar em sala o habitat do bichinho. “Eu acredito que, assim, eles se identificaram com a história, né? Eles vivenciaram a história desenhando, construindo a imagem da Maria Farinha, e aí fica mais fácil tomarem gosto pela leitura”, explica a professora. “O que eu mais gostei da história é que ela morava na areia. Achei bem legal”, resume Camila Borges, de 7 anos, aluna de Ivanilda. Outro aluno de Ivanilda, Eduardo


Dantas conta que achou “bem legal ela entrando na toca”. De acordo com Ivanilda, depois que os alunos conheceram a Maria Farinha, começaram a pegar os livros na caixa que fica na sala.


Para Marco Miranda, criança precisa desconstruir o livro para construir o pensamento

Essa aproximação foi feita também com os alunos mais velhos. “Esta semana eles já estão buscando os livros na sala de leitura, querem que eu leia com entonação, como uma contadora, para que possam ler em casa da mesma forma. A Jornada fez com que o colégio acordasse também para os livros. Leitura é incentivo, é impulso”, garante Ana Lívia Alves de Pinho, que tem 24 anos de magistério e dá aulas de português para adolescentes no Centro de Ensino Fundamental 9, em Sobradinho, uma escola nova que até pouco tempo não possuía biblioteca.


JL forma leitores também entre adolescentes

Em seu quarto ano, a Jornada Literária se consolida como formadora de leitores. “Quando a gurizada chega para se encontrar com o autor, tu vês que eles tiveram um contato anterior com o livro, um contato recreativo e reflexivo, o que garante que não será apenas um evento, mas a culminância de um projeto que busca de fato formar leitores”, observa Caio Riter, premiado autor gaúcho, com mais de 60 obras publicadas, que participou de duas das quatro JL’s até aqui.


Ivan Zigg: "O trabalho da JL também é social"

“Nossa vinda é a celebração do evento, o autor sendo ansiosamente aguardado. Essa é a diferença da Jornada Literária para 90% de outros projetos de literatura com participação de estudantes”, observa também Ivan Zigg, ressaltando a principal característica da Jornada Literária: os alunos leem o livro antes e só depois conversam com o autor. Zigg, presença desde o primeiro ano do evento, destaca outro aspecto da JL: o caráter social. “Porque na verdade nós estamos tratando com o entorno (periferia) de Brasília, como se fosse o entorno da elite, que tanta gente chega a considerar como apartados da sociedade”, ele lamenta; e prossegue: “E você vê que o projeto alcança pessoas com poucos recursos. E o que é surpreendente é a vontade dessas pessoas lerem, contrariando pesquisas de araque que dizem que o brasileiro não gosta de ler, que precisa ter um show assim e assado antes... aqui não tem show nenhum”. Performático, condutor de apresentações muito bem-humoradas, Zigg reconhece, rindo: “Eu faço lá minhas palhaçadas, mas tudo em cima do livro, e os alunos correspondem, eu diria, que até mais do que em colégios tidos como de elite”, completa.


A Jornada Literária vai agora para Ceilândia, entre 10 e 13 de setembro, no Teatro Sesc Newton Rossi. Entre os dias 23 e 25 de setembro será a vez de São Sebastião, que receberá no IFB a Jornadinha. E, por fim, o Gama: de 28 a 31 de outubro, no Teatro Sesc Paulo Gracindo.

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