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Jornada chega à terceira edição e leva literatura à Ceilândia

Atualizado: 18 de jul. de 2018


Em 2018, a Jornada Literária do Distrito Federal chega a sua terceira edição consolidando-se como um evento que aproxima a literatura dos leitores por intermédio do contato direto dos alunos e professores com os autores. Os dois lados saem ganhando. Alunos e professores porque veem de perto, conversam, trocam ideias, abraços e risadas com quem faz literatura, seja na forma de texto ou ilustração. E os autores, porque podem ter contato com esse universo maravilhoso dos leitores, razão maior de quem escreve ou ilustra.



Este ano, a Jornada reunirá cerca de 20 escritores e ilustradores entre 14 e 17 de agosto no Teatro Newton Rossi, em Ceilândia, em mais uma parceria vitoriosa com o SESC, proprietário do teatro. João Bosco Bezerra Bonfim, curador do evento e também autor participante, conta como será a Jornada este ano, fala dos frutos que ela já deu em dois anos de realização e das experiências populares feitas há mais de 40 anos e que serviram de inspiração para o evento.


Qual a grande novidade/diferença deste ano para a Jornada do ano passado?

Por incrível que pareça, a novidade é a simplicidade; e a persistência.

Com essas duas, buscamos a sustentabilidade.


Vimos buscando um caminho que nos aproxime com mais facilidade dos leitores; principalmente dos que ainda não se reconheceram como leitores de literatura. Então, nossa experiência dos dois anos anteriores vem servindo para reafirmar a metodologia, que se apoia no tripé leitor-livro-autor. Mas é uma experiência que encontra raízes nos movimentos de cultura popular, da década de 1960; nas caravanas e nos CPCs da Une; no Movimento de Educação de Base; em Ceilândia, na década de 1970, do Favela Teatro Popular. Por isso, o estabelecimento das parcerias com as escolas vem ocorrendo de maneira cada vez mais fluida. E o engajamento se mostra maior. Já trazemos as imagens do quanto vem dando certo o trabalho. E isso empolga os mediadores.


A persistência é isso mesmo que parece: manter firme a atividade; não buscar novidade por ser aparentemente mais espetacular – sempre lembrando que temos autores que fazem maravilhosos espetáculos! O que é verdadeira é a afeição que se cria pelo poema, pelo conto, pelo livro ilustrado. Então, mantemos o propósito: apresentamos o projeto, captamos o recurso e vamos para a Ceilândia, “jornadar”.


E a sustentabilidade virá de não termos a pretensão de estar inaugurando algo de novo. É um consenso que a literatura tem um potencial formativo enorme: da diversão ao questionamento de valores da sociedade; ou reafirmação de valores que essas pessoas já vinham desenvolvendo. Então, o projeto é sustentável porque reforça a sala de leitura de cada escola; empodera a biblioteca pública de Ceilândia; estimula os nascentes leitores e escritores.


Por que Ceilândia foi escolhida?

Desde o início, nossa opção de trabalhar “fora do Eixo” vem nos levando a um roteiro que compreende Paranoá, Varjão, Itapoã, São Sebastião (2016); Gama, Recanto das Emas, Samambaia e Santa Maria (2017). Então, Ceilândia se apresenta como um caminho recomendável e necessário: pela grande dimensão populacional, por ser a regional de ensino com mais de cem escolas, por ter uma tradição cultural forte, desde os anos 1970. E, também, por abrigar o Teatro Sesc Paulo Gracindo. Estamos buscando, na Ceilândia, as escolas que mais demandam programas de reforço à literatura, o que inclui comunidades ainda mais pioneiras, como a do Sol Nascente.


Há alguma presença que você destacaria este ano?

Temos a Cristiane Sobral, na abertura da Jornada, o que consideramos que é um grande ganho para nós, pois ela se firma cada vez mais como uma voz potente da poesia brasileira. E é admirável a maneira como já é conhecida da comunidade da Ceilândia. Muitos professores e alunos já trabalharam as obras da poeta. Esse é um ponto de destaque.


Pela presença, desde a primeira edição, do Alexandre Pilati, estamos com uma parceria com o Instituto de Letras, da UnB, que é uma referência internacional. Desse encontro, veio a possibilidade de termos, na Jornada, a poeta Vera Lúcia de Oliveira, que é uma poeta reconhecida; e que atualmente leciona, publica e traduz poesia na Itália. Um de seus livros, Entre a juntura dos ossos, vencedor de um concurso do MEC, teve uma tiragem – e distribuição gratuita – de 110 mil exemplares. Vera Lúcia estará com nossos autores.


Mas teremos também – além dos reconhecidos autores que residem em Brasília – a presença de Caio Riter, pesquisador, professor e autor de dezenas de obras para crianças; e também de livros para adolescentes. Ele traz a rica experiência do Rio Grande do Sul, que é de onde tiramos inspiração para a Jornada, pois eles têm programas com mais de 60 anos, com esse mesmo teor que o nosso.


Também do Rio Grande do Sul, mas com uma experiência em todo o Brasil, vem o S. Lobo, que é um quadrinista que já esteve à frente dos projetos editoriais mais premiados do Brasil. Virá ministrar oficinas para quadrinistas de Brasília e quaisquer interessados.


Qual foi o legado da Jornada do ano passado? O que ela mudou na vida das escolas?

Alcançamos, em 2017, mais de doze mil pessoas. Diretamente, seja com a leitura de um livro, seja com a presença no Teatro Sesc, seja recebendo um autor na escola. Então, já consideramos isso um avanço. De quantidade e de qualidade. Uma dimensão da Jornada é a da modéstia. Mas também a da persistência. Embora saibamos que as atividades constituem uma semente, cremos muito nesse poder de reforçar o professor, professora, bibliotecário/bibliotecária que já peleja, às vezes isolado, para formar leitores. Nas avaliações e depoimentos, o que vemos é, no primeiro momento, um quase espanto: “Então, é simples, assim, lidar com literatura?”. Na sequência, eles próprios auxiliam a produção dos frutos: então, vieram os recontos das obras lidas; encenações teatrais; feiras de culinária (pois um dos livros trata disso). O melhor que vejo é que a literatura sai de uma visão de obrigação escolar para o espaço da brincadeira, do jogo, da atividade prazerosa. Temos visto isso no Paranoá, São Sebastião, Gama, enfim, nas cidades em que atuamos com a Jornada.


E a Jornada deste ano? Que impacto você acredita que terá para a comunidade escolar?

Nós buscamos o estabelecimento de redes, de conexões, de alianças. E o que temos visto nas escolas que optaram por trabalhar conosco é uma comunidade que já trabalha nessa linha ou já tem sério interesse pela literatura. Para uns e outros, reforçaremos as atividades já existentes. É fantástico chegar em uma escola e os gestores nos dizerem que já movem um projeto literário. Então, a gente vem com esse espírito de reforço. E a esperança é a de que os mediadores de leitura saiam mais encorajados; sabendo que fazem parte de uma rede com os mesmos propósitos. Às vezes, ouvimos, nas oficinas, depoimentos empolgados a respeito do quanto a Jornada está trazendo de novidade para a prática cotidiana; de como os livros que já estavam no programa passarão a ter outra abordagem.


A parceria com o Sesc se manteve, né? Então, deu certo...

O Sesc, em verdade, mostrou interesse desde 2016, no Paranoá, ocasião em que enviou uma embaixada de técnicos e gestores, para assistir aos nossos trabalhos. Com o interesse manifestado, e com o tempo para o agendamento, nos ofertou o Teatro Sesc Paulo Gracindo, no Gama, onde pudemos fazer um maravilhoso trabalho.


E, para 2018, acertamos desde o ano passado essa parceria. Desta vez, no Teatro Sesc Newton Rossi, que consegue ser ainda mais acolhedor do que o do Gama, com um auditório mais amplo e mais salas para atividades, além do hall, para a exposição de livros.


O Sesc é mesmo um grande incentivador da cultura no DF – e no Brasil, claro –; e essa parceria com a Jornada vem ao encontro dos propósitos da instituição, que já tem concursos locais e nacionais, que incentiva a leitura e a criação literária.


Para crianças, jovens e adultos, incluindo educadores e mediadores de leitura, é um presente podermos contar com essa estrutura tão valiosa para a cultura.


Dê detalhes das atividades da Jornada. O que os alunos encontrarão? Os livros já estão sendo trabalhados em sala?

Os participantes da Jornada Literária, da comunidade e das escolas, encontrarão uma programação de acolhida e encanto: encontros com autores, debates literários, oficinas; feira de troca de livros; livros dos autores presentes para compra.


Bem, a Jornada é uma...jornada, isto é, depende de irmos em busca dos parceiros, que estão concentrados em escolas. Fizemos os contatos iniciais, com a Regional de Ceilândia; anunciamos a realização do projeto; e recebemos as manifestações de gestores das escolas; e fomos às escolas e bibliotecas, conversar.


 Na sequência, programamos, segundo idade e ano escolar, os livros e os autores. Já ministramos oficinas para todos os níveis; e emprestamos os livros. Vimos frequentemente verificando o andamento das atividades com os parceiros; e os livros estão sendo trabalhados em sala, sim. Agora, os próximos passos dizem respeito ao agendamento: qual escola, em qual dia, e assim por diante. E, entre 14 e 17 de agosto, toda a comunidade – de Ceilândia e de todo o DF – está convidada, pois a entrada é de graça.

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